Rua Tite de Lemos, na Vila Seabra, Zona Leste de São Paulo, sofre há décadas com inundações.
Mais de uma semana depois das chuvas que deixaram a Grande São Paulo debaixo d’água, o sol brilhou forte na capital paulista nesta terça-feira (18). No entanto, na Rua Tite de Lemos, na Vila Seabra, Zona Leste da cidade, os moradores ainda precisam usar galochas para entrar e sair de casa.
“Esperança não tenho mais”, diz o ajudante geral Gilberto dos Santos Júnior, duvidando que a água volte a baixar ali. Ele mora há 30 anos na região e diz que sempre sofreu com as enchentes. A via, assim como suas transversais, a Rua Simão Rodrigues Moreira e a Rua Prof. Flamínio Favero, sofrem com inundações há décadas.
Após as chuvas do dia 10, a Prefeitura de São Paulo utilizou uma máquina escavadeira e bombas de sucção para diminuir o alagamento da Rua Tite de Lemos. Segundo os moradores, a água chegou a baixar para a altura do meio fio, mas com a nova chuva de segunda (17), a água subiu para a altura do joelho novamente.
O cheiro forte da água misturada com esgoto impregna nos móveis e colchões. Maria da Cruz Ferreira, de 86 anos, dorme na cama ainda úmida, uma semana depois do temporal que alagou que sua casa. De tanto perder móveis, o armário agora fica em cima de pequenas pilastras no chão.
- Maria da Cruz, de 86, reclama que dorme na cama ainda úmida. De tanto perder móveis, ela coloca o armário num nível acima do chão. — Foto: Paula Paiva Paulo/G1
Mesmo com a rua constantemente inundada, o valor pago de IPTU por alguns moradores passa de R$ 400. Outros conseguiram isenção da prefeitura.
- Boleto de IPTU da Rua Tite de Lemos com vencimento em janeiro de 2020, no valor de R$ 468 — Foto: Arquivo pessoal
“Era para ter arrumado esse rio. Não fizeram nada. Agora ficam aí, tirando água, enxugando gelo. Porque eles tiram, tiram, e quando eles vão embora a água volta tudo”, disse a dona de casa Maria das Graças de Andrade, de 69 anos. Ela se refere a um braço do Rio Tietê que passa no fim da rua.
“Era uma vez por ano essa enchente, ficava uns meses e ia embora. Agora não, passa a pingar uma chuva e já está enchendo”, reclama a dona de casa. Ela contou que já caiu na água quando voltava com uma sacola de compras de mercado. “A gente é idoso, não tem mais tanta força na perna”.
- A dona de casa Maria das Graças na porta de sua casa. Ela já perdeu diversos móveis e caiu na água com uma sacola de compras — Foto: Paula Paiva Paulo/G1
Ruas da Vila Seabra estão alagadas há mais de uma semana
A percepção dos moradores é a de que os alagamentos pioraram depois que uma área do Parque Várzeas do Tietê – vizinho à rua – foi aterrada.
O pedreiro Edson Vanderlei dos Santos, de 27 anos, cresceu na Tite de Lemos e nunca conheceu outra realidade. Quando criança, ele lembra de brincar de pega-pega e esconde-esconde na via alagada.
Na semana passada, com os vizinhos ilhados (mais que de costume), ele cortou o teto de uma Kombi e transformou em um pequeno barco. “Improvisei né, para o pessoal poder sair de casa para ir trabalhar”. Agora é chamado de “herói” pelos vizinhos.
Edson dos Santos, de 27 anos, nasceu e cresceu na Tite de Gomes e lembra de, quando criança, brincar na água alagada — Foto: Paula Paiva Paulo/G1
Botas e galochas são uma realidade nas casas dos moradores da Rua Tite de Lemos e transversais — Foto: Paula Paiva Paulo/G1
Decreto de situação de emergência
A Prefeitura de São Paulo declarou situação de emergência neste sábado (15), para os bairros alagados na Zona Leste. Com isso, a cidade pode receber verbas dos governos estadual e federal para fazer obras nesses locais.
O decreto contempla 97 vias da Subprefeitura de São Miguel Paulista, no Distrito de Jardim Helena, que foram atingidas pela enchente no começo deste ano. A Rua Tite de Lemos e a Prof. Flamínio Favero estão no decreto.
Área de emergência decretada pela Prefeitura de São Paulo no Distrito Jardim Helena — Foto: Guilherme Luiz Pinheiro/G1
A Prefeitura informou que, atualmente, “há 4 bombas de alta sucção em funcionamento, equipe de cata-bagulho e duas equipes com dez funcionários cada, para limpeza em galerias. Por conta do número reduzido de ruas alagadas, aumentou-se o número de serviços de raspagem de lama nas vias que já estão secas”.
A administração municipal informou ainda que “os serviços de limpeza de córregos, galeria e boca de lobo foram intensificados na região desde o final do ano passado, visando a prevenção das enchentes durante o período de chuvas no início do ano.
Rua Tite de Lemos nesta terça-feira (18), mais de uma semana após o temporal que alagou a cidade — Foto: Paula Paiva Paulo/G1
Também foram intensificados os serviços de cata-bagulho, para evitar que as ruas ficassem tomadas por móveis e materiais de grande porte nas calçadas”.
No próximo período de seca, a Prefeitura disse que irá começar obras de construção de um muro de contenção no Córrego Lajeado. “Já está em andamento o sistema de drenagem na Rua Tite de Lemos e Rua Tietê. O objetivo com estas obras é amenizar as consequências dos alagamentos na região”.
Bomba de sucção na Rua Tite de Lemos nesta terça-feira (18). Medida não é o suficiente para a rua ficar sem água. — Foto: Paula Paiva Paulo/G1